Cimenfort opera com apenas 35 % da sua capacidade instalada: desafios e perspetivas

A Cimenfort enfrenta atualmente uma fase de produção abaixo do seu potencial nominal, operando com apenas 35 % da sua capacidade instalada. Esta realidade suscita uma reflexão sobre os obstáculos internos e externos que marcam a atividade de uma das maiores cimenteiras de Angola e aponta caminhos possíveis para uma retoma sustentada.

A produção real versus a capacidade instalada

A fábrica da Cimenfort, situada no município da Catumbela (província de Benguela), dispõe de uma capacidade instalada para produzir aproximadamente 1 400 000 toneladas de cimento por ano. No entanto, os dados mais recentes indicam que a produção efetiva se encontra nos cerca de 35 % desse valor, ou seja, cerca de 490 000 toneladas anuais

Principais fatores a limitar o desempenho

De acordo com o coordenador comercial da Cimenfort, Diendelo Francisco Wilfrid, diversos fatores contribuem para o atual desempenho produtivo:

  1. Recessão económica prolongada
    Angola atravessa uma recessão económica que se arrasta desde 2015, o que diminui a procura interna de cimento nas obras públicas e na construção privada.

  2. Escassez de clínquer
    O clínquer, principal componente do cimento (representa cerca de 90 % da sua composição), tornou‑se menos disponível no segundo semestre do ano anterior, gerando aumento de preços e restrição na produção.

  3. Problemas técnicos e logísticos
    A Cimenfort tem sofrido paragens para manutenção, avarias em equipamentos e falhas de fornecimento de insumos, fatores que reduzem significativamente o ritmo de produção

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Impactos operacionais e sociais

Esta redução do nível de operação implica custos elevados de ociosidade e impacto sobre os colaboradores, uma vez que a empresa teve de despedir 50 trabalhadores no segundo trimestre de 2024, por razões económicas, correspondendo a cerca de 25 % da força de trabalho direta. A decisão decorreu da pressão dos custos em kwanzas frente a despesas em dólares (manutenção, matéria‑prima, combustível), pela desvalorização da moeda, inflação elevada e falta de divisas.

Perspetivas estratégicas de recuperação

Apesar das dificuldades, a Cimenfort mantém planos ambiciosos de investimento e expansão:

  • O grupo Cimenfort continua a apostar na diversificação dos produtos e nos mercados externos. Estão em curso estudos para aproveitar o terminal mineiro do Porto do Lobito e exportar até 30 000 toneladas mensais de cimento e gesso para países como São Tomé e Príncipe, Gabão e outros mercados da África Central e Austral.

  • Paralelamente, a empresa investe no desenvolvimento agrícola: com a linha Terrafort na produção dos produtos agrícolas calcário agrícola e gesso calcítico, apoiando a agricultura de várias províncias de Angola.

Reequacionar a trajetória industrial

Para recuperar níveis produtivos adequados, a Cimenfort tem em mente:

  • Garantir a aquisição estável de clínquer, mitigando os riscos de escassez.

  • Investir na manutenção preventiva e modernização dos equipamentos para reduzir avarias.

  • Diversificar os seus canais de mercado, ampliando vendas internas e exportações.

  • Ajustar a estrutura de custos à volatilidade cambial e às condições económicas do país.

  • Reforçar o envolvimento comunitário e social, como já faz com formação profissional, projetos agrícolas e criação de emprego qualificado.

O papel da Cimenfort na reconstrução nacional

Desde a sua fundação em 2012, a Cimenfort tem assumido o compromisso de contribuir para o desenvolvimento económico e social de Angola, ao oferecer um produto “Made in Angola” de qualidade internacional, reduzindo a dependência de importações e fortalecendo a soberania nacional.

Este posicionamento é reforçado por investimentos em formação de quadros locais, laboratórios de controlo de qualidade, e equipamentos modernos de produção agrícola e cimento, que realçam o compromisso com o progresso do país e o bem‑estar das comunidades.

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A operação da Cimenfort a apenas 35 % da sua capacidade instalada reflete os desafios macroeconómicos de Angola e problemas internos de logística e produção. No entanto, os planos de expansão, diversificação de produto, aposta na exportação e no apoio à agricultura revelam uma estratégia clara rumo à superação desta fase.

Para retomar a plena capacidade, a Cimenfort deverá reforçar a gestão de cadeias de abastecimento (nomeadamente clínquer), otimizar a manutenção de equipamentos, ajustar-se à realidade cambial e continuar a investir no capital humano e social. Só assim poderá consolidar a sua posição como uma das principais cimenteiras de Angola e um motor de desenvolvimento nacional.

Com foco estratégico, resiliência e inovação, a Cimenfort está preparada para transformar os atuais 35 % de utilização em produtividade sustentável, contribuindo para a recuperação da indústria do cimento e o progresso económico de Angola.